domingo, 23 de junho de 2013

PROTESTOS: das ações quantitativas para as qualitativas
Dia 20/06/2013, segundo os telejornais, foi um dia histórico para o nosso país, pois nesse dia um grande número de brasileiros, das mais diferentes cidades, idades, sexo e  religião saírem de suas casas e manifestarem sua indignação... mas, indignação do que mesmo? Sentada na manhã do dia 21/06/13, tomando café e assistindo ao jornal da manhã, os quais apenas abordaram as manifestações do dia anterior, minha filha bombardeou o ambiente com perguntas que, pelo tom de sua voz, eram apenas para serem ouvidas, na verdade eram afirmativas mal formuladas, pensando bem, eram conceitos morais de uma pessoa jovem que não tem argumentos suficientes para sustentar sua posição e, sendo assim, prefere interrogar a afirmar; o maior questionamento  que ela fez foi  acerca do motivo dos protestos: é pela diminuição da tarifa do transporte público, é pela causa gay, é por melhores hospitais ou é por causa da realização da Copa do Mundo aqui em nosso país? Afinal, pelo que o povo protesta? De todos os questionamentos, ao final saiu uma afirmação... “as pessoas adoram imitar, só porque São Paulo fez manifestação o resto do país também fez”.
Questionamentos e posicionamento de uma jovem de apenas 15 anos, mas não só dela, de uma grande maioria de brasileiros, de diferentes faixas etárias. Não podemos negar que é um posicionamento plausível e, se levado a cabo, pode inclusive invalidar a credibilidade dos protestos, mas, é preciso lembrar que o Brasil é um país jovem, que o povo não desenvolveu (ainda) a cultura de ir às ruas exigir seus direitos, como é o caso dos países que compõe a zona do euro. No entanto, exigir direitos demanda dominar um rol de conhecimentos, protestar sem saber pelo o que exatamente é  ingênuo. Saber o que se necessita realmente, saber definir com clareza as funções do Estado para com seus cidadãos, saber qualificar ou desqualificar algum serviço público, não pelo critério do individualismo, mas pelo critério da justiça parece fácil,  mas não é; vou exemplificar, quando se exige melhorias no transporte público, implicitamente está se afirmando que se o mesmo fosse excelente  (não pelo critério da individualidade mas pelo critério da justiça)  todos os cidadãos deveriam “abandonar” o meio de transporte particular e deveriam aderir ao coletivo, mas será que isso realmente aconteceria? Não sei! Outro exemplo, se há críticas e protestos sobre a realização da Copa do Mundo no país, porque prefere-se construções de hospitais a construções ou reformas de estádios de futebol, pela lógica as pessoas não deveriam participar desse evento, mas será que aqueles que gritaram nas ruas do nosso país por esse motivo tivessem a oportunidade de assistir a final da Copa do Mundo no Maracanã todo reformado sendo  Brasil X Espanha  não iriam?
Como se pode ver,  para  protestar há a necessidade conhecer o objeto de protesto e digo mais, vai além disso, necessita a tomada de uma posição que muitas vezes não é fácil de ser decidida, mas, então, isso significa que o ocorrido em nosso país de nada valeu? Pelo contrário! Valeu e valeu demais, simplesmente porque estamos no primeiro estágio de aprendizado no que diz respeito a protestar, qual seja, “a imitação por osmose”, uma quantidade enorme de indivíduos ao mesmo tempo no mesmo local gritando, exigindo, seja pelo que for,  diminuição das tarifas do transporte público, contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, por educação de qualidade, etc. Mesmo que não esteja tão claro o que está errado  o importante   é que os brasileiros já identificaram que existe algo errado e que é preciso cobrar o conserto. O próximo estágio do aprendizado acerca de protestos é transformar ações quantitativas em ações qualitativas, não se pode parar, o pontapé inicial foi dado.

Alexandra Constancio (alexandraconstancio27@gmail.com)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O QUE É REALMENTE ESSENCIAL?
Você ficou sabendo da greve dos metroviários em São Paulo? Claro que sim, não é mesmo? Essa foi a notícia mais transmitida pelos telejornais do dia 23 de maio; a greve afetou milhões de trabalhadores e, por consequência, a economia paulistana. A mobilização do governo para encerrar a greve foi imediata, no mesmo dia, por volta da 17:00 horas, os metroviários conseguiram o reajuste de 6,18% no salário e voltaram a trabalhar; agora responda: você sabia que os professores universitários federais entraram em greve, inclusive antes, dos metroviários?
Os professores universitários estão em greve em virtude das mesmas necessidades pelas quais os metroviários entraram, melhores condições de trabalho, agora porque uma categoria é atendida tão imediatamente em suas solicitações e a outra não é? Provavelmente algumas pessoas podem dizer que a paralisação do transporte público afeta a população como um todo, as cidades param os congestionamentos aumentam, enfim, tudo torna-se um caos, mas em relação a greve dos professores a população não é afetada diretamente, as cidades não param, continuam trabalhando. Ingenuidade de quem pensa dessa maneira, de modo bem simplório destacamos que somos afetados diretamente sim, por exemplo, muitas das instituições em greve prestam serviços considerados essenciais à população, como o atendimento nos Hospitais Universitários que, por falta de responsabilidade do poder público, são superlotados e ficarão ainda mais sem a atuação dos estudantes e professores, mas não podemos nos limitar a enxergar o que está apenas visível aos nossos olhos, temos que aprender a enxergar por trás da situação "os (as) professores (as) federais estão em greve em defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade e de uma carreira digna, que reconheça o importante papel que os docentes têm na vida da população brasileira", eles solicitam re-estruturação do Plano de Carreira, mas, também solicitam melhorias essenciais para trabalho como, por exemplo, quadro completo de professores nas instituições de ensino, laboratórios, salas de aula em condições de uso, refeitórios ou restaurantes universitários, bebedouros e papel higiênico nos banheiros, são necessidades básicas que afeta diretamente a qualidade do ensino que está sendo ofertado ao aluno que futuramente será o profissional que atenderá o mercado de trabalho e que a população utilizará dos serviços desses profissionais formados em situações precárias; temos que nos dá conta que a educação é prioridade, que os profissionais devem ser tratados com respeito e serem valorizados, afinal, todos os outros profissionais são formados por meio do ensino e precariedade na educação é sinônimo de precariedade e atraso do nosso país. É importante que esteja claro à todos que condições dignas de trabalho são essenciais em qualquer profissão e que qualquer tipo de trabalho, do menos valorizado ao mais valorizado, é importante e nos afeta diretamente, quando os brasileiros derem conta desse fato e exigirem dignidade à todos os trabalhadores aí sim o Brasil poderá sair do patamar de subdesenvolvido para desenvolvido.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O QUE É SER IGNORANTE?

 Outro dia li em uma postagem do facebook a seguinte frase:” LIDAR COM A IGNORÂNCIA É O PIOR CASTIGO QUE ALGUÉM PODE MERECER”. Essa frase de alguma maneira mexeu comigo, fiquei me perguntando: o que é ser ignorante? Comecei a levantar todas as hipóteses que circulam acerca desse tema e identifiquei que alguns compreendem ignorância como sendo uma pessoa com pouca instrução, que pouco ou nada conhece dos conteúdos culturais e históricos valorizados pelo mundo acadêmico, é uma pessoa que escreve precariamente que muitas vezes não sabe distinguir quando deve usar  S ou Z na escrita de uma determinada palavra, geralmente o pessoal do interior “os da roça” e os da periferia “os favelados” entram nessa classificação; identifiquei também que alguns rotulam como ignorante uma pessoa de pouca classe que, ao meu ver acho a classificação mais interessante, é a pessoa  que fala alto que xinga o funcionário público (ou privado) ou qualquer outra pessoa quando sente que seus direitos estão sendo infringidos ou simplesmente se sentem ofendidas, essas pessoas também são denominadas “barraqueiras” , há também  uma terceira denominação, são as pessoas que dizem tudo clara e diretamente doa a quem doer, são os “super sinceros” ou “insensíveis”.
 Depois desse levantamento parei, fiquei estarrecida quando me dei conta de que me encaixava em todas as classificações das quais tinha acabado de levantar. Diante da primeira sou ignorante, primeiramente, porque resido no interior desde que nasci, então, literalmente sou da roça, ah, mas apesar de viver no interior estudei um pouquinho, mas isso não elimina minha ignorância diante da primeira classificação, pois, apesar do estudo, tenho claro que existem pessoas com grau de conhecimento muito maior do que o meu, fato que me faz permanecer ignorante, tem outro coisa que me impossibilita de deixar a categoria, eu até sei que CASA se escreve com  S porque o S no meio de duas vogais tem som de Z, mas dias atrás quando tive que escrever QUETZAL fui pega, tive que recorrer ao “pais dos burros”, ou seja, não domino todas as palavras do dicionário. No que diz respeito a segunda categoria sinto-me incluída porque já perdi a conta de quantas vezes tive que “ser barraqueira” para que meus direitos fossem garantidos, a exatos 8 dias atrás sofri uma queda, na verdade foi um tombão, imediatamente senti que meu braço tinha sido afetado, fui ao Pronto Atendimento a fim de verificar se havia quebrado ou não (mas a dor era muito forte), qual não foi minha surpresa quando fui chamada para ser atendida, a enfermeira queria tirar minha pressão arterial e minha temperatura para analisar qual o grau de necessidade para eu ser atendida por um médico, mesmo eu estando com o braço da grossura da coxa da minha perna, não teve jeito, tive que fazer um barraquinho básico para ser atendida por um ortopedista, só por esta eu já me encaixo na segunda classificação de ignorância, isso porque eu nem mencionei os outros casos. Na terceira classificação que identifiquei não tenho como fugir, sou daquelas que diz  claramente o que deve ser dito. Uma vez fui questionada por alguns alunos porque eu não lidava com os erros deles com mais “delicadeza” , ao invés de dizer “vocês não estão bem, precisam se dedicar mais” eu deveria falar “pessoal sei que vocês são bons alunos, sei que vocês trabalham estão cansados, mas vocês precisam se dedicar mais”, fui clara novamente, o primeiro passo para melhorarmos em algo que necessitamos melhorar é ter a real noção de nossas limitações e saber lidar com elas a fim de superá-las, quando se diz a alguém que o que ela fez está bom, MAS, poderia ficar melhor, na verdade queremos dizer que não está bom, mas esta informação está implícita, alguns compreendem outros não, por isso gosto de ser explícita, ah, deixa eu abrir um parênteses, ouvir que o que se faz ou fez não está bom não é nada agradável, sei disso pois tive um orientador “super sincero”, mas graças a sinceridade dura dele cresci bastante, por esse motivo aí estou inserida na terceira classificação de ignorância.
Então sou uma ignorante... nossa, devo me sentir mal por esta constatação? Acho que sim, mas porque não me sinto?
Não me sinto mal porque tenho clareza de que o conhecimento é algo extremamente amplo e diversificado, que é simplesmente impossível dominar tudo a nossa volta, mesmo aqueles que não dominam o conhecimento culturalmente valorizado pela sociedade capitalista dominam outro tipo de conhecimento; que mesmo eu tendo um nível escolar elevado sempre haverá alguém com um nível maior do que o meu, sei também, porque sinto na pele, que se eu não gritar, bater a mão na mesa muitas vezes meus direitos como cidadã ou simplesmente como ser vivo, nem digo humano, não são garantidos, tenho claro que muitas vezes as pessoas que ouvem meus gritos não são responsáveis por garantir meu direito, mas são pontes para que eles sejam garantidos, também prefiro dizer a verdade nua e crua a enganar e ridicularizar um semelhante, pois dizer a verdade não é sinônimo de ridicularização, mas de mostrar que outro pode e deve melhorar.
Depois de muito pensar elaborei uma quarta classificação para ignorância, para mim ser ignorante é ter posse de algum conhecimento socialmente valorizado pela sociedade capitalista, sentir-se superior a tudo e a todos por possuí-lo e menosprezar “os da roça”, “os favelados”, “os barraqueiros” e os “super sinceros”, todos esses tipos agem na ignorância, na maioria das vezes devido a circunstâncias impostas  por uma sociedade capitalista cruel e desigual, não há muitas vezes como escapar, mas, aquele que apesar de saber desse fato ignorá-lo e sentir-se superior a  essas pessoas esses sim são ignorantes e, sem dúvidas, lidar com eles é um castigo.